domingo, 15 de setembro de 2013

» Principais Poemas e seus Autores

Com certeza um dos acontecimentos mais importantes para que o mundo artístico pudesse ter um grande impulso no Brasil, a Semana da Arte Moderna aconteceu em 1922 no Teatro Municipal de São Paulo, onde muitas obras foram apresentadas num período de três dias. O maior objetivo que foi imposto pela Semana da Arte Moderna era fazer com que o padrão de estilo acadêmico para obras fosse retirado das tradições no Brasil, oferecendo assim uma nova era com artes mais renovadas.
1x1.trans Obras Apresentadas na Semana da Arte Moderna de 1922
A Semana da Arte Moderna teve três dias de duração, no primeiro dia (13/02/1922) foram apresentadas obras de pintura e escultura, no segundo dia (15/02/1922) foram apresentadas obras de poesia e literatura, e no terceiro dia (17/02/1922) foram apresentadas obras musicais. Uma das idéias que os responsáveis pelo evento queriam transmitir para o público, era atualizar a cultura artística do Brasil, para que assim a visão fosse ampla.
Veja abaixo um breve resumo com imagens de obras apresentadas em cada dia da Semana de Arte Moderna:
Graça Aranha pronunciou uma conferência tendo como tema “A Emoção Estética na Arte”, ela elogiou e comentou sobre várias obras de arte expostas, principalmentequadros pintados por grandes nomes;
1x1.trans Obras Apresentadas na Semana da Arte Moderna de 1922
Mario de Andrade – Anita Malfatti
1x1.trans Obras Apresentadas na Semana da Arte Moderna de 1922
A Estudante Russa – Anita Malfatti

 Oswald de Andrade apresentou vários de seus poemas e Mário de Andrade fez um discurso literário sobre o tema “A escrava não é Isaura”;
1x1.trans Obras Apresentadas na Semana da Arte Moderna de 1922
Brasil – Oswald de Andrade
1x1.trans Obras Apresentadas na Semana da Arte Moderna de 1922
Beleza – Menotti Del Picchia

Ronald de Carvalho leu um poema de Manuel Bandeira, o qual não comparecera ao teatro por motivos de saúde: Os sapos. Trata-se de uma ironia corrosiva aos parnasianos, que ainda dominavam o gosto do público. Este reage através de vaias, gritos, patadas, interrompendo a sessão.

Os Sapos


Enfunando os papos,

Saem da penumbra
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.
Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
- "Meu pai foi à guerra!"
- "Não foi!" -- "Foi!" -- "Não foi!".
O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: - "Meu cancioneiro
É bem martelado.
Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.
O meu verso é bom
Frumento sem joio
Faço rimas com
Consoantes de apoio.
Vai por cinqüenta anos
Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
A formas a forma.
Clame a saparia
Em críticas céticas:
Não há mais poesia
Mas há artes poéticas . . ."
Urra o sapo-boi:
- "Meu pai foi rei" - "Foi!"
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!"
Brada em um assomo
O sapo-tanoeiro:
- "A grande arte é como
Lavor de joalheiro.
Ou bem de estatuário.
Tudo quanto é belo,
Tudo quanto é vário,
Canta no martelo."
Outros, sapos-pipas
(Um mal em si cabe),
Falam pelas tripas:
- "Sei!" - "Não sabe!" - "Sabe!".
Longe dessa grita,
Lá onde mais densa
A noite infinita
Verte a sombra imensa;
Lá, fugindo ao mundo,
Sem glória, sem fé,
No perau profundo
E solitário, é
Que soluças tu,
Transido de frio,
Sapo cururu
Da beira do rio...”
“O Modernismo, no Brasil, foi uma ruptura, foi um abandono de princípios e de técnicas consequentes, foi uma revolta contra o que era a Inteligência nacional”.

Abaixo, transcreveremos os poemas “Poética” e “Ode ao Burguês”, respectivamente, de autoria de Manuel Bandeira e Mário de Andrade. Esses poemas foram verdadeiros “hinos” modernistas. Concluiremos que “Poética” não apresenta versos metrificados, na verdade, Bandeira faz o uso de versos propositadamente longos. Em “Ode ao burguês”, Mário de Andrade nos dá a ideia da dimensão da crítica social que marca a arte moderna.


Poética


“Estou farto do lirismo comedido

Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente protocolo e [manifestações de apreço ao Sr. diretor.
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o cunho vernáculo [de um vocábulo.
Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante exemplar com cem    [modelos de cartas e as diferentes maneiras de agradar às mulheres, etc
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbados
O lirismo dos clowns de Shakespeare
- Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.”


Ode ao Burguês


Eu insulto o burguês! O burguês-níquel

o burguês-burguês!
A digestão bem-feita de São Paulo!
O homem-curva! O homem-nádegas!
O homem que sendo francês, brasileiro, italiano,
é sempre um cauteloso pouco-a-pouco!

Eu insulto as aristocracias cautelosas!

Os barões lampiões! Os condes Joões! Os duques zurros!
Que vivem dentro de muros sem pulos,
e gemem sangue de alguns mil-réis fracos
para dizerem que as filhas da senhora falam o francês
e tocam os “Printemps” com as unhas!

Eu insulto o burguês-funesto!

O indigesto feijão com toucinho, dono das tradições!
Fora os que algarismam os amanhãs!
Olha a vida dos nossos setembros!
Fará sol? Choverá? Arlequinal!
Mas as chuvas dos rosais
O êxtase fará sempre Sol!

Morte à gordura!

Morte às adiposidades cerebrais!
Morte ao burguês-mensal!
Ao burguês-cinema! Ao burguês-tílburi!
Padaria Suíssa! Morte viva ao Adriano!
_ Ai, filha, que te darei pelos teus anos?
_ Um colar... _ Conto e quinhentos!!!
 Más nós morremos de fome!

Come! Come-te a ti mesmo, oh! gelatina pasma!

Oh! purée de batatas morais!
Oh! cabelos na ventas! oh! carecas!
Ódio aos temperamentos regulares!
Ódio aos relógios musculares! Morte á infâmia!
Ódio à soma! Ódio aos secos e molhados!
Ódios aos sem desfalecimentos nem arrependimentos,
sempiternamente as mesmices convencionais!
De mãos nas costas! Marco eu o compasso! Eia!
Dois a dois! Primeira posição! Marcha!
Todos para a Central do meu rancor inebriante!

Ódio e insulto! Ódio e raiva! Ódio e mais ódio!

Morte ao burguês de giolhos,
cheirando religião e que não crê em Deus!
Ódio vermelho! Ódio fecundo! Ódio cíclico!
Ódio fundamento, sem perdão!
Fora! Fu! Fora o bom burguês!...”

FONTE http://www.pinturasemtela.com.br/obras-apresentadas-na-semana-da-arte-moderna-de-1922/
                     http://www.recantodasletras.com.br/artigos/3206331

1 comentário: